terça-feira, 25 de abril de 2017

Os presságios do Facebook

Não acredito em misticismo e presságio. Na verdade, usei o termo no título deste texto só para chamar a atenção e para brincar com algo que me pareceu interessante.
Sapeando as postagens do Facebook, vi que muitas pessoas postam frases de efeito. Deixando os erros de português de lado, geralmente a frase não vale o tempo que se perde lendo-as.
Mas desta vez, não sei por que razão, o Facebook estava inspiradíssimo e permitiu-me elaborar o texto de hoje sem usar frases de pensadores e celebridades, senão dos humanos comuns, como nós, que postamos na rede social.
Sei que as frases não são de autoria própria, mas vou citar o dono do perfil para dar crédito às citações. Lembrando que são postagens na linha do tempo, disponíveis para o público ou amigos. Nenhuma pessoa me enviou mensagem em particular.
Comecei lendo minha amiga Aline Rodrigues, que me deu um tapa na cara quando postou: "Não mendigue nada a ninguém , muito menos amor..."
Eu que estou nessa mendicância há alguns meses, senti-me citado na frase, apesar de não ser para mim. A carapuça, porém, serviu-me sob encomenda.
Amor é gratuito e espontâneo. Ter de mendigá-lo é descer abaixo dos porões do auto desprezo.
Aí vem a Fernanda Figueiredo  formando um combo com a frase anterior e postando: "Nunca te acostumes com o que não te faz feliz."
E eu acabei de falar para minha psicóloga que gosto de ser triste! Claro, justifica-se essa minha posição porque sou poeta formado na escola Romântica. Tenho as características de Mal do Século, Supervalorização do Amor, Supervalorização da Mulher entre outras...
Mas acostumar com o que não nos faz felizes é masoquismo, e está longe de ser romântico. Mesmo o poeta deixará de amar a Lua se esta só lhe apresentar seu lado negro.
A Eliana Gonçalves Lopes completou com "Cada qual sabe amar a seu modo;o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar."
Aí é que fiquei em dúvida. Se uma pessoa maltrata mas está sempre se fazendo presente, isso é amar de alguma maneira? Preciso pensar melhor nisso. Mas a Eliana está coberta de razão na postagem.
E para concluir, vou citar a Jéssica Jeh, com uma frase que é auto-explicativa e fecha esse texto quase que fazendo amanhecer minha noite escura: "De tanto ser esquecido, uma hora ou outra a gente também aprende a esquecer. E tudo no seu tempo vai se ajeitando, o destino se encarrega de levar o que tem que ir, e trazer o que definitivamente tem que ficar."
Ai, ai... mas a Jéssica falou de destino... gente, desculpe, mas não posso deixar de citar Jung: "Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamá-lo de destino."
Por um amor consciente em nossa vida! Tim, tim!


segunda-feira, 24 de abril de 2017

Parecem iguais, mas são totalmente diferentes

Relacionamentos. Isso dá material para muitos e muito artigos. Chego a pensar que tudo o que acontece no mundo, no fundo, no fundo, é por causa de relacionamentos.
Quem procura luxo, riqueza, poder, está buscando meios de atrair relacionamentos. Sejam quais forem. Dizia Deepak Chopra, professor e médico indiano: "Seja qual for o relacionamento que você atraiu para dentro de sua vida, numa determinada época, ele foi aquilo de que você precisava naquele momento."
O tema de hoje fala um pouco mais sobre isso. Sobre as pessoas parecerem tão iguais e serem tão diferentes. E vou narrar em forma de fábula, para diferenciar um pouco.
Lá vai:
Eles eram parecidos. Eram retangulares, cor de areia, mesmo formato, idênticos para quem os olhasse.
Havia um tijolo, e havia uma esponja. Olhando, não havia o que por ou o que tirar, encaixavam-se, rimavam-se, pareciam-se a ponto de confundirem.
Mas ele era duro. Ela, absorvia.
Ele era senhor da noite. Ela, poetisa.
Mas quem olhasse, via um só.
Mas ele era áspero, não se deixava quebrantar e era forte, pesado, inflexível. Permanecia forte, firme, e não se deixava amassar.
Ela, pobre dela, que era leve, manipulável, amassava-se com facilidade, empurrava-se para lá e para cá. Machucava-se, ao que parece, com maior facilidade.
tijolo
Ela, que era esponja, gostava dele, que era tijolo, que não gostava dela. E nem era obrigado a gostar, mas tratava-a mal, como era de se esperar de um tijolo. E isso não se pode admitir.
Poemas, cartas, músicas, expressões de carinho... "Você me sufoca", dizia o tijolo. "Você enche", gritava o tijolo.
Um dia, como era previsível, não deu certo.
esponja
E ela, esponja, era resiliente, e continuou seu caminho, porque a esponja foi amassada, mas tinha qualidades que a faziam recuperar suas mesmas proporções. E tudo o que absorveu, serviu para refrescar-lhe o caminho.
Já ele, tijolo, seguiu áspero, achando poder tudo. Até que deparou-se com a pedra. E quebrantou-se inteiro. E nunca mais se recuperou. E nem a esponja poderia mais consertar o estrago (se quisesse consertar).
Não seja duro como o tijolo, não maltrate nunca quem lhe apresenta expressões de afeto e carinho. E se alguém o amar, mesmo que você não o ame, trate-o bem, muito bem.
Seja esponja, seja poeta, absorva tudo e seja leve.
Isso faz diferença na hora de definir quem vai quebrar.



quinta-feira, 20 de abril de 2017

O chamado da Baleia Azul

Está tomando vulto a brincadeira que causou já a morte de dezenas de adolescentes russos e até o momento, pelo que se suspeita, de dois adolescentes brasileiros. A brincadeira denominada Baleia Azul, em que se determinam uma série de tarefas a serem  realizadas pelo adolescente até chegar na prova derradeira, que é tirar a própria vida.
Aí, sapeando pelo facebook, lemos atrocidades, tais como dizer que quem entra nesse jogo é desocupado, é vagabundo, que falta apanhar, que precisa de um trabalho, que o poder é do manto azul de uma santa etc., etc.
Muito mais medo do que essa brincadeira, na verdade, eu tenho do desconhecimento e da falta de senso das pessoas. Os adeptos da cinta, da pancada (não que eu seja totalmente contra os tapinhas amáveis que levei de minha mãe).
A inserção de crianças e adolescentes nesta brincadeira é um grito de socorro. Os adolescentes querem ser amados e eles não estão encontrando isso nas famílias. Educar é amar até certo ponto. Alimentar é amar até certo ponto. A cuca dos adolescentes é puro problemas e a sociedade moderna, a facilidade de acesso à informação está enchendo-os de muitos problemas insolúveis. Eles precisam dos pais, que trabalham cada vez mais para botar comida e pagar estudo para os filhos. Atitude elogiável mas que deixa o adolescente à mercê do carinha que manda o whatsapp com as regras do jogo.
O perfil da maioria dos que entram na Baleia Azul é de uma família sem estrutura. Os filhos querem os pais, precisam dos pais, precisam de um norte, de um adulto, de alguém que os oriente. Alguém que não diga que chorar pelo "crush" é besteira. Alguém que entenda que se cortar é uma forma de fuga e não sinal de que o jovem está louco. Alguém que muitas vezes não precisa falar e nem estar certo, precisa apenas segurar firme na mão e mostrar que está ali.
Vejo Poesia nisso. Uma Poesia dando um grito imenso. O professor e médico indiano Deepak Chopra escreveu: "O desconhecido é o território dos amantes."
O jovem corre atrás dessa Baleia Azul e correrá atrás do LSD, do cigarro, do que for que se fizer desconhecido para ele. Porque, no fundo, seu maior desconhecimento é do que é ter orientação perita de pais amorosos. Ele quer ter atenção!
Li numa reportagem que certa adolescente tão logo recebeu mensagem de um "guia" do Baleia Azul tratou de bloqueá-lo. Por que ela fez isso? Acaso porque ela não é vagabunda, porque apanhou, porque estava no manto da santa? Prefiro acreditar que foi porque ela pensou nos pais que a EDUCARAM.
Educação não é responsabilidade primária da escola. A escola deveria ensinar somar, dividir e ler. A família deveria incutir valores, pesos, medidas, mas falha nisso e recai nas instituições a dura carga de formar pessoas de bem aos jovens que chegam todo arrebentados para ela.
E sinto muito a sinceridade aguda que usarei. Sempre disse que odeio lugar-comum e pensamentos de massa. Por isso, atribuem ao maligno ditador Hitler a frase: "O indivíduo é inteligente , mas as massas são burras."
E enquanto as massas não amarem os adolescentes ao invés de tachá-los quais preguiçosos e coisas assim, vamos entregá-los aos baldes e numa bandeja para a extinção junto à Baleia Azul.


quarta-feira, 19 de abril de 2017

Nada é por causa dela

NOTE a estrofe inicial da música "Virgem" cantada por Paula Toller:

"As coisas não precisam de você
Quem disse que eu tinha que precisar
As luzes brilham no Vidigal
E não precisam de você
Os dois irmãos também não precisam."

Interessante nas relações interpessoais o valor exagerado que damos ao ser humano.
Logicamente, somos humanos e devemos nos valorizar. Mas supervalorizar um ser em detrimento próprio e de outros é colocar-se num jugo perigoso e entregar-se a uma obsessão que pode ser perigosa.
Aquela moça ou aquele rapaz não eram ninguém, até que você o conheceu. Aí foi o sorriso, aí foi o olhar, ou foram as palavras bem postas, ou sabe-se lá que raio de Poesia a pessoa usou contra você e acontece.
Parece que tudo passa a depender da pessoa. E isso não é verdade. É simplesmente VOCÊ que quer depender da pessoa. E entenda direito: você é que quer depender e não que você precise depender.
Essa ideia fixa é perigosa porque passa a influenciar todos os aspectos de vida da pessoa. Pode prejudicar o trabalho, os estudos, os demais relacionamentos familiares e afetivos.
Deixar que uma pessoa seja única em sua vida é, desculpe a sinceridade, jogar com muito pouco. Um jogo arriscado e com chances grandes e reais de fracassar.
O jogo funciona bem assim: a pessoa não era nada, passa a ser a mais importante e você passa a fazer planos e projetos para o futuro. Um futuro que conta com a presença da pessoa que, muitas das vezes, sequer deseja participar.
Temos a tendência de achar que conseguimos mudar os pensamentos e os sentimentos de uma pessoa. Acredito que seja possível, mas acredito também que não é possível. É um jogo, eu disse, e também acrescentei que é arriscado. Há o risco de sofrer, entristecer, perder tempo.
Uma pessoa que não se importa verazmente com você é alguém que não merece seu pensamento menos importante, quiçá os planos de futuro.
Nesse ponto, há pessoas que se divertem com o sentimento alheio. Mantém em banho-maria o que você tem de mais belo a oferecer. 
Abra os olhos. Vire a mesa. Quem tem de sofrer é ele (a) e não você!
As coisas não precisam dessa pessoa para continuarem a existir, você também não!
A Lua não precisa ser alguém para continuar bela e controlando as ondas do oceano.
Não dependa de ninguém, além da pessoa mais importante do mundo: você mesma!

sábado, 15 de abril de 2017

Por mais que se explique, não entendem

"Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?
Morar no interior do meu interior." - Vander Lee


Não se manda no coração. Manda-se sim!
Coração não se ordena, ele tem de ser convencido.
Sempre digo: odeio o uso de lugar-comum. Toda convenção pode ser desconvencionada, pode ser repensada em outros padrões em mais modernas decisões em base de maior sabedoria.
O coração é um músculo burro, ele não pode ficar xucro, libertino, sem dono. Senão ele faz besteira.
Poetas mexem com corações. Convencem-nos em pessoas que as deixam convencer.
Existe o "não te amo" mas não se pode dizer "nunca vou te amar".
Conheço uma pessoa que tinha asco de seu atual marido. Tinha medo, receio, nojo da pessoa que viria a ser seu amor por mais de 20 anos (e que continua sendo).
Como ele fez para mudar esta ideia? Fez Poesia.
Não, ele não escreveu poemas, ele fez Poesia da maneira que ele sabia ser poeta.
Ele mandou flores, ele ligava, ele se importava, ele cuidava, ele era presente, ele tinha boas intenções.
Ele era a melhor pessoa para ela. Tratava-a melhor do que as pessoas que deveriam cuidar dela.
E ela um dia enxergou. Deu a chance, deu certo.
É dolorido ver a pessoa sofrendo, batendo a cabeça por ser como ela é, e não como deveria.
Uma pessoa que se aventura mas não quis aventurar-se no rumo certo. Bate cabeça, machuca-se, sofre.
O poeta, impassível, tenta explicar, mas é o que mais sofre as consequências.
Então que o tempo entra.
Certa mocinha namorou um rapaz quando tinha 17 anos. Seu primeiro namorado. Quis as intempéries dos tempos que ela conhecesse um rapaz garboso de São Paulo que se casou com ela. Nunca mais então ela viu ou pensou no primeiro namorado.
Décadas se passaram, mais de quarenta anos. E ela enviuvou. Foram oito anos curtindo a depressão pela viuvez. Até que se lembrou do ex-namorado.
Procurou na lista telefônica, encontrou o distinto. Encontraram-se, namoraram-se. Ambos com mais de 70 anos.
Quando ela morreu, ele morreu uma semana depois.
O jeito é deixar para o tempo fazer acontecer as coisas mais imprevistas da vida. As coisas acontecem, basta querer, eu acredito nisso.
Mas enquanto não acontece, e a outra parte insiste em não entender que a melhor opção é o poeta, canto Vander Lee... e vou me esconder no interior do meu interior.


quarta-feira, 12 de abril de 2017

Queria você como eu queria


Estou estudando italiano. Uma maneira de ocupar-me o tempo ocioso de maneira mais prática.

Ouvindo uma música chamada Il Monde Degli Altri (música no final da postagem), na voz de Renato Russo, fiquei intrigado com alguns trechos. Por exemplo

"C'è un telefono a due passi e ho bisogno di sentirti
La tua voce può bastarmi per convincermi che esisti"
que significa:
(Há um telefone a dois passos e eu preciso te ouvir
Sua voz pode ser o bastante para me convencer que você existe)

Isso revela um pouco de um sentimento que estava perscrutando em mim. As pessoas que se apaixonam fácil demais apaixonam-se não por um ser real, mas pelo ser idealizado que eles criam como uma áurea em torno da pessoa.
Este ser idealizado seria, em tese, a pessoa com quem se poderia viver para o resto da vida, que teria todos os predicados necessários para fazer-nos felizes em todos os momentos e nas mais diversas situações.
Mas são seres irreais, fictícios, ideais, que vivem somente na utopia poética. São uma capa com que revestimos uma pessoa eleita para vestir esse manto irreal. E a pessoa, pobre pessoa, não teria condições de alcançar o ser supremo que fora idealizado. 
Mas o poeta tenta enxergar assim, tendo relevar as falhas, tenta desculpar todos os escorregões. Tenta ver o belo no ogro, o perfeito no decadente.
Um detalhe, como diz a canção acima transcrita, seria o bastante para convencer que a pessoa existe. Mas não existe, isto é fato.

"Il mondo degli altri che non son con me
Ma non me ne importa se sono con te"

(O mundo dos outros que não estão comigo
Mas não me importa se estou com você)

E este isolamento do mundo, achando que somente a pessoa ideal é que vale toda a pena é o grande perigo. Porque abrimos mão de tudo por conta de algo que não existe. Abrimos mão até de nós mesmos por causa de alguém que é irreal, um fantasma, uma ilusão.
Queria muito que fosse como eu queria, como eu sonhava, como imaginava. Queria que a Lua fosse como a lua, cândida, pura, minha. Mas não é, nunca é.
Muito cuidado. Por isso quero registrar o que Renato também cantou: "Mas é claro que o sol vai voltar amanhã mais uma vez".


segunda-feira, 10 de abril de 2017

O beijo da morte

No "Canto para Minha Morte", de Raul Seixas, ele diz assim:

"a morte, surda, caminha 
ao meu lado 
e eu não sei em que esquina 
ela vai me beijar..."

E enquanto brincamos de viver, lutamos para viver, falamos tanto em viver, chamamos quem amamos de vida, exclamamos "puxa vida", reclamamos da vida... a morte segue serena ao nosso lado, apaixonada por nós, não se esquecendo de nós um momento sequer, esperando o horário exato de dar o primeiro e derradeiro beijo.
Uns, querem viver eternamente. Outros, pensam em morrer mas lhes falta coragem. Há os que são surpreendidos por ela.
Os que desejam morrer, desejam sem razão suficiente. Amores mal resolvidos, problemas de difícil solução, dívidas não pagáveis, ou mesmo por não encontrar razão em continuar vivos.
Não os condeno. As religiões fazem isso muito bem (na tentativa de evitar os suicídios, mas falham).
Quantas pessoas desejam viver e uma doença inesperada lhes coloca prazo determinado e curto na existência.
Freud comentou que, para suportar a vida, deve-se estar pronto para aceitar a morte.
De qualquer forma, o texto de hoje é para alertar.
Que hoje somos, amanhã, éramos. Como no tempo de um verbo, uma conjugação que foi, simples e singela, rápida assim.
Daí vem o pensamento de Da Vinci, "que o teu trabalho seja perfeito para que, mesmo depois da tua morte, ele permaneça."
O que somos agora é o que importa. O amanhã é uma previsão que pode não dar certo. É aquele tempo chuvoso que pode ser sol, ou vice-versa.
Não deixemos para amanhã as ações, as declarações, as atitudes, as decisões, os pedidos, as resoluções, os beijos, os abraços, os sorrisos, os "fazer sorrir".
A transformação é sempre agora. Porque o amanhã é ilusório, é uma desculpa, é uma incógnita. É uma incerteza.
A certeza transformadora é somente agora, e urgente. Porque sabe-se lá em que esquina a indesejada das gentes vai querer me beijar.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Pronto para a troca

Deparei-me com uma postagem no Facebook que me deixou intrigado e, sinceramente, fiquei um bom tempo sem saber como responder ou o que pensar.
A postagem era uma pergunta: "Trocaria uma pessoa que você ama, por uma que ama você?"
Essa pergunta nos coloca duas situações de mão única. Primeiro, apenas nós amamos. Na segunda, apenas somos amados.
As pessoas que consultei foram rápidas em responder que fariam a troca sem pestanejar.
Mas eu não consegui ter essa presteza em decidir-me. Ponderei muito e demoradamente sobre a situação.
Como poeta de uma escola literária romântica, minha formação pede que supervalorize o feminino, o amor, entre outras características.
Já mencionei em outras postagens que sou do grupo que gosta de cuidar a ser cuidado, a que denominei de síndrome de anjo da guarda. Posteriormente, descobri que se trata do Complexo de Wendy, que é justamente a extrema necessidade de satisfazer as necessidades dos outros.
Deste prisma, não pareceria impossível optar pela primeira opção, de ficar com quem amamos, mesmo que este não nos ame (e já tenha deixado claro que não virá a amar).
Sei que amor pode vir a ser em um coração que não ama. Mas é um salto muito arriscado no escuro.
Ainda pensei que seria muito egoísmo de minha parte se eu deixasse de querer cuidar e optar por ser cuidado.
Mas quer saber? No final de minhas ponderações sempre insisti em colocar a argumentação de que eu queria ser feliz.
E quanto de felicidade eu teria em amar alguém que não me ama, que me trata de acordo com seus interesses (isto é, bem quando convém). Uma pessoa que não demonstra se importar com seu bem estar, que fala coisas que o magoam, e que pratica atos para mantê-lo distante?
Prudentemente, temos de enxergar que a pessoa a quem só amamos tem seus próprios planos e muitas vezes não consegue mais ter sentimentos. Amar, somente a si mesma e procura apenas encontrar alento e conforto para si própria.
Foi então que decidi-me: será uma troca válida deixar quem eu amo (e não estou dizendo deixar de amar, que isto não é tarefa fácil) por aquela que me ama.
Acho que estou preparado, porque tentei.
Como na frase do filósofo Nietzsche: "Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinza?"

sábado, 1 de abril de 2017

Quando a gente deixa (ou o fim de uma eternidade)

Concordo com o leitor que achou o título desse texto paradoxal. Como poderia uma eternidade chegar ao fim? Pois é, há pequenos infinitos dentro de nossa existência que continuarão sempre vivos e existentes, mas que acabarão sendo deixados de lado. Talvez não seja por nosso querer, mas por força do soprar dos ventos, pelo vai e vem das ondas, e pelas tempestades que surgem.
De qualquer forma, não me sai da cabeça o Soneto de Fidelidade de Vinícius.

"Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure"

Às vezes, bastam detalhes, "quês" mal definidos, palavras mal colocadas, atitudes impensadas ou incompreendidas e de repente muda-se o que parecia ser imutável.
Casamentos chegam ao fim, fé é questionada, time sai do coração, vocação "desvocaciona-se". 
É como a conversa no País das Maravilhas entre Coelho e Alice:

"Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: Às vezes apenas um segundo."

Desistir também é opção.
Quando se trata de relação interpessoal, não se pode exigir reciprocidade proporcional, isto é, ninguém pode amar e exigir ser amado, por exemplo.
Ninguém pode doar-se e esperar doação em troca.
Mas é preciso ponderar se ao menos o respeito à essência humana existe.
Somos produtos com data de validade. Alguns ainda têm um prazo reduzido por conta de algum imprevisto. E tempo é sem dúvida um bem precioso. Os mais ricos nesse quesito, como a francesa Jeanne Calment, teve 122 anos e 167 dias para esbanjar. Nossa expectativa no Brasil é 73,6 anos e há escritores que não sabem se conseguem virar o ano.
Por isso, como se sujeitar a uma pessoa que o despreza em dados momentos? Que não reconhece o bem que lhe quer? Que um dia é amores e outros lhe toca terrores?
Como se sujeitar a situações sentimentais, laborais, relacionais que lhe deem dores no peito, angústias, ansiedades? O cronômetro está rodando de trás para frente.
Em conclusão, ponderemos: mesmo que ainda nos importe muito algo ou alguém... se não nos valoriza, deixe.